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Sobre meninos e lobos

 Publicado em 14 de Março de  2019, sobre o massacre de Suzano-SP.  Desculpe, mas a culpa não foi culpa do Bullying... Nem do vídeo game, e também não foi culpa dos pais... Ficamos chocados com Suzano, com Goiânia, com Realengo porque são explosões de violência, e como explosões elas tem esse peso impactante. Mas não podemos esquecer que essa violência sempre esteve lá, acumulada gota a gota, velada nos corredores do cotidiano. E recentemente ainda mais alimentadas pelos discursos agressivos, armamentistas e de canalização da truculência aos “inimigos”, que tomam todas as partes especialmente as mídias sociais, que chegam tão rapidamente aos jovens. Estes ataques são estimulados continuamente pela falta de empatia, pela falta de um olhar sensível para com o outro, em um mundo tão competitivo e preocupado em fazer vencedores a todo custo. Mesmo que seja ao custo de muito ódio. Não podemos esquecer que a outra ponta do sucesso é o fracasso, e este é o destino de todos nós em algum moment

Pais

  Para quem não sabe, eu tive dois pais. Um era um retirante nordestino, amigo do Patativa, que cantou com ele até de madrugada no dia que partiu de Assaré-CE aos 17 anos de idade (em 1944) e nunca mais voltou. Ele foi um imigrante que peregrinou errante por esse Brasil afora. Foi peão, foi patrão, morou no Sul, mas rumou para o oeste com a coragem e o pioneirismo de quem tem Sol em Escorpião e a Lua em Áries. Com esse pai eu aprendi a sonhar com pavões misteriosos no céu, com  lendas ao cair da tarde no meio da Amazônia e a memorizar e recitar cordel. Aprendi que homem chora, cuida dos filhos e é especialmente tolerante e amoroso com os netos. Aprendi a beber leite no curral, a esperar o dia da vacinação do gado, a andar de Toyota no atoleiro e em cima da gaiola do caminhão. A entender que a vida é uma aventura e que devemos sempre ter coragem de desbravar o mundo. Sinto falta dele todos os dias. Do cheiro, do chapéu, do seu senso urgência, do afeto e da força de um homem que mais se

04 de Fevereiro

É meu quinto dia em Granada e já foi o suficiente para me acostumar com o frio, com a solidão e com o cheiro e gosto de peixe em tudo. Mas não foi possível me adaptar a saudade. Esta, como diz DaMatta, é filha do amor e da ausência, e  só  pode sentida em Português. E como quase tudo em Português a saudade dói deliciosa, num contraditório e inexorável processo de alagamento, onde se enche e se esvazia ao mesmo tempo. Em um continuo sentimento de perda e de presença. Estou alagada desse prazer torturante que é a saudade. Dessa agonia que a abstinência do ser amado traz. Desse acalento de tê-lo na outra ponta do Atlântico -  "Para que fosse vosso, ó mar..." . Valeu a pena! Pois é só cruzando os mares de si que se descobre os novos mundos... Fevereiro de 2014

Daquelas coisas de Adeus (ou adíos)

Em exatamente um mês estarei na cidade do céu mais bonito e azul (do mundo?), comendo feijão e revendo quem eu amo. Mas ainda assim ir embora daqui me dá uma nostalgia, uma saudade prévia, porque estou deixando pra trás um povo hospitaleiro, de voz alta e sorriso aberto. Deixando a mistura de línguas e credos que iluminam a Calle Elvira nas rotas de volta para casa e os ornamentos (tão primorosos) dos velhos prédios da Gran Via; a silhueta da Serra Nevada emoldurando ao longe toda paisagem e as subidas disformes do Realejo, que faz pequenos labirintos de pedra e cal. Ai dá uma vontade de ficar misturada com um desejo enorme de ir embora. De ouvir Português, de encontrar os amigos, de submergir meus sentidos em tudo que é Brasileiro. E é uma espécie de alegria misturada com tristeza, que deixa tudo mais bonito. Que aguça o olhar na despedida e no reencontro.  Saudade e Echar de Menos se conectam nos vocábulos das velhas línguas ibéricas e me inundam o corpo, numa doçura caótica, de con

Cartão de Natal

"Sabe essa coisa que as pessoas têm de querer sempre achar algum lado bom pra tudo. Quando realmente não tem nada de bom, a gente diz que serviu para aprender ou para nos tornar mais fortes. então eu escolho pensar que você me ensinou alguma coisa. Com você eu aprendi que não vale a pena de jeito nem um se dedicar muito a uma pessoa, aprendi que não se deve confiar. Você hoje representa pra mim o máximo da decepção que eu já experimentei. Bem você disse que é momento de fechar e fazer um balanço da vida. Eu fiz, e acho que você foi um inconveniente na minha historia. Eu realmente não desejo nada de bom pra você e seu namorado, porque não acho que mereçam, mas é provável que eu vou assistir você se dando muito bem, gente como você sempre se dá bem. Também não vou ficar desejando mau, vocês fazem parte do lixo do passado, então siga a sua vida no próximo ano e nos outros esse puder cruze o mínimo possível com a minha. Sua proximidade me faz mau, me causa asco."

O ex ainda dói.

Fim de namoro foi feito pra doer. E dói tanto porque é uma perda instantânea de alguém (mais importante do mundo) que de uma hora pra outra passa a pertencer a um outro tempo. Se ruptura é violenta, cheia de ferimentos, dói pelo machucado. Pelas mágoas que se causaram. Se a ruptura é branda, pelo desgaste, dói pela falta de motivos, pela vida que se evanesceu, pela ausência que foi ocupando os espaços da casa...  Sem mais domingo no parque, sem mais discussões entusiasmadas sobre as canções do Roberto. Reinventa-se os amigos, se reorganiza a lista de contatos (afinal muito se perde do mundo que se criou durante a relação amorosa). Vira ex e vai se apagando da agenda. De repente a pessoa mais próxima da vida passa a ser querida distante. Um mero estranho que não sabe mais quais são seus planos pro próximo feriado. E enxergar alguém, antes tão rente, agora tão longe é extremamente doloroso. Fim de namoro dói. E dói muito. Dói o vazio das palavras, o desespero de se querer voltar à zona

super heroi

Hoje de olhos arregalados e silencioso me viu chorar. Chorei por alguns minutos, respirei fundo e tentei encontrar sentido no vão que se abria sob meus pés. Motivo fútil para alguns, mas para mim era a frustração de todos os esforços. Mais que isso, era como se meus últimos três anos de trabalho e cuidado tivessem sido tomados de mim por um banqueiro malvado que resolveu rever as regras. As leis foram mudadas no meio do jogo, e ali estava eu de olhos vermelhos, expondo-me como uma criança, deixando o meu medo ser lavado na frente de todos. E ele, de olhos arregalados. Nenhuma palavra. Nenhuma. Não sabia o que falar, eu penso. E se pôs ao meu lado, quieto, tentando resolver minhas tempestades. Segurar os estragos que vêm depois que tudo se alaga. Não há o que se fazer no meio de explosões, só a quietude. E depois dela, se tenta salvar o que sobrou. Ele me salvou. Como tinha prometido, ele me salvou. Apertou-me em seus braços e me resgatou do meu lado escuro dramático. Ficou quieto, e